Marvada Pinga

Eliane Faria

Só pra espairecer, e aproveitando que ainda estou ouvindo Cartola (também fã da água que passarinho não bebe), resolvi dividir com vocês um dilema.


Zoar ou não zoar a situação do Adriano?

Nesta semana, depois da declaração desastrada do dirigente do Flamengo (contando o que todo mundo já sabia, mas tentava preservar o jogador e seu valor de mercado), o que se viu na internet e na TV foi uma sucessão de piadas a respeito do problema (sério) do Imperador.

Eu até cogitei a transcrever a letra de “Marvada Pinga”, imortalizada na voz de Inezita Barroso e Catifunda (acho que só o Corneta vai lembrar da Catifunda). Mas essa idéia foi embora rapidinho.

E sabem porque? Quem, em sã consciência, pode atirar pedra no Adriano? Alguém aí teve a infância paupérrima do cara e a ascenção meteórica a milionário quase que da noite pro dia? Ainda, alguém aí, depois desse rebuliço todo perdeu o pai de forma abrupta? Justamente aquele que era o apoio extremamente necessário?

Não estou querendo justificar o ocorrido. Mas todos nós temos nossos vícios. Parem e pensem. Eu, por exemplo, sou viciada em coca-cola e em twitter. Nenhum deles prejudicam tanto quanto o álcool ou outras drogas, mas são vícios, oras bolas. Coca-cola me engorda pra caramba, e se eu precisasse do meu corpitcho pra viver, talvez estivesse sendo julgada como o próprio Adriano e o Fenômeno. E o twitter não me deixa dormir antes das duas da manhã, o que causa um certo transtorno pra acordar cedo.

Não dá nem pra comparar com o alcoolismo, lógico. Só quero mostrar que, em maior ou menor grau, todos somos acometidos por vícios. Destruidores ou não.

Acho que talvez estejamos direcionando muito o nosso foco para coisas alheias ao futebol. Podemos, sim, questionar e insistir num tratamento para o craque do Fla, mas ficar fazendo troça com um problema tão sério é, no mínimo, cruel.

Quem já teve um alcoólatra por perto sabe do que estou falando. Ninguém entra nessa por livre e espontânea vontade, como acaba parecendo. E, pra sair, também não basta “força de vontade”. Isso é conversa pra boi dormir.

Posso estar exagerando na minha constatação? Sim, mas acho que o povo também pode maneirar ao brincar com a doença do rapaz.

Adriano, se cuida, nego! Um negão lindo, poderoso e vitaminado desses não pode se destruir assim. Fé em Deus que a coisa vai pra frente.

Abraços!

(E, antes que me perguntem, eu sou muito mais o Adriano na Copa do que Pato, Grafite e Love JUNTOS. Não há outro jogador com o porte dele em atuação no Brasil ou no exterior. E precisamos de um matador a prova de tombo.)